Na Estrada (On the Road), o mais recente filme do cineasta Walter Salles, adaptação do romance homônimo do escritor Jack Kerouac, celebra o aniversário da obra literária do ‘Rei dos Beats’ – essencial na genealogia da geração Beatnik, e de toda a revolução da contracultura dos anos 60/70. A transgressora narrativa do livro é transliterada para as telas, interpretando a iconografia da maior geração literária do séc. XX – transpondo para a película o clássico livro – apelidado ‘Bíblia Hippie’’ na historicidade hodierna da contracultura americana, atestando a amplitude avassaladora da sua grandeza para a Literatura Ianque Pós – Guerra (...).
On the Road, livro lançado no ano de 1956 pelo então desconhecido escritor Jack Kerouac, foi a matriz da insurreição literária - analítica – filosófica sob a égide do subversivo séquito de escritores, poetas, músicos, pintores, dentre outros expoentes do então incipiente Movimento Beatnik - confrontando a vala – comum existencial vertida sob a égide do American Way of Life – que se transmutaria em American Way of Death a posteriori... O Movimento Beat teve a sua gênese conceitual e orgânica nas estradas sinuosas e caóticas sedimentadas nas sediciosas sinapses de Jack ‘’On the Road’’ Kerouac e seu séquito transgressor, que nas décadas de 50/60, referendaram o sonho de novo mundo, uma nova realidade, que sonharam criar através da reengenharia da realidade na América Pós – Guerra – almejando a alteração de estados de consciência então preeminentes - das mentes de uma sociedade que vislumbravam abduzida, alienada ao extremo... Kerouac e sua geração literária foram os matizes matriciais das visões existenciais viabilizadas sob um prisma jamais imaginado...
A cenografia conceitual eruptiva encravada em minha verve literária, surgiria após eu ler os livros On the Road e Dharma Bums, de Jack Kerouac, Howl, de Allen Ginsberg, além de The Naked Lunch e Junkie, de William Burroughs... Tais obras literárias foram o radicandos da revolução em minhas redes neurais, que já apresentavam um funcionamento peculiar, distinto dos ‘’normais’’ que me estigmatizam, agouram e amaldiçoam sempre que podem pelos guetos escuros de uma existência enigmática e demasiado complexa para que me atinjam alguma de suas inferências ou juízos de valor...
Ao meu modo de ver, o filme On the Road, de Walter Salles, está na árdua atribuição de agradar ao senso estético – moral – conceitual comum cristalizado na consciência social - cada vez menos analítica; cada vez mais enclausurada nos estereótipos mantrânicos hipermídia manifestos na morbidez do Mainstream... Sem experimentação – Are You Experienced? – como diria Jimi Hendrix, sem assentar alguma vivência real na estrada de On the Road, torna – se humanamente impossível processar a plenitude da obra literária mais emblemática e representativa da Contracultura, catalisando definitivamente o movimento de libertação da América Pós – Guerra nascida em meio às dúvidas, assombros e anseios da geração quase perdida de Jack Kerouac, Allen Ginsberg, William Burroughs, Neal Cassady, dentre outros que me outorgaram um sentimento de: não sou o único porra – louca inconsequente insano nesta dimensão... Como é bom este sentimento de descobrir pertencer a um séquito subversivo inteligível somente a poucos...
A Geração Beat foi uma simbiogênese entre as inferências analíticas, literárias, filosóficas e artísticas com o estilo de vida errante, pernóstico, devasso, cáotico e transgressor de seus autores, manifestadas nos mantras literários de seus signatários; nascida nas vidas nômades, errantes e anômalas de seus expoentes; agregando antinomia, transgressão e vaticínio em seus tomos de tergiversações textuais... Compêndios de almas atormentadas pela preeminência do vazio existencial de nossos limbos conceituais, que manifestamos o tempo todo em mosaicos infinitos de pressuposições e incertezas...
Agradeço a Jack Kerouac pela libertação conceitual – literária – filosófica; por mostrar ser passível de observação, experimentação e transposição literária cada evasão entrópica existencialista de minha existência... Um cara que conheci de uma maneira tão surrealista quanto intensa; desvelada em cada linha não – linear de uma existência sempre anárquica, caótica, imprevisível... Para assim, no benefício de toda este mergulho mental no caos da criação, regozijar raros momentos que fazem valer a pena cada viagem... Mesmo que seja aquela que não tenha volta, como a de muitos à minha volta... Obrigado Jack Kerouac, mentor libertário do seja e escreva como queira, sem subterfúgios, sem ardis, sem escapismos de você mesmo... Agora, só me restando ir ao cinema assistir a On the Road...
JOÃO OLMEDO
JOÃO OLMEDO